27 de maio de 2015
Por Danilo Vivan
No rastro do aumento do uso da bicicleta no Brasil e no mundo – dos serviços oferecidos a um número cada vez maior de ciclistas –, o mercado imobiliário vêm buscando, cada vez mais, oferecer empreendimentos ‘bike friendly’, com estrutura para esses consumidores. E, embora algumas cidades estabeleçam por lei a obrigatoriedade de instalação de bicicletários nos edifícios, o principal fator responsável pelo aumento dessas estruturas é, mesmo, a busca por qualidade de vida.
Em São Paulo, embora haja uma legislação prevendo a instalação dos paraciclos, o empresário Eduardo Grigoletto, da Ciclomídia, empresa especializada na instalação de bicicletários que tem entre seus clientes o hospital Albert Einstein Bradesco e Itaú, avalia que o fator motivador da demanda é uma mudança cultural, com o aumento do uso das bikes como lazer e meio de transporte. “A existência de uma estrutura para bikes passa a ser vista como um benefício, da mesma forma que uma piscina ou uma boa academia, por exemplo”. Mesma opinião tem o especialista Rodrigo Karpat, professor do curso de Sindico Profissional da Gabor RH. “A maior pressão vem dos próprios moradores, não da lei.”
O aumento da demanda ocorre principalmente nos edifícios comerciais, cerca de 90% da clientela da Ciclomídia. Um exemplo é o edificio Campo Belo Corporate Tower, da Construtora MSB Sanchez. O prédio, com 220 escritórios e entrega prevista para junho, foi concebido a partir a avaliação de que, quando fosse inaugurado, haveria uma superoferta de imóveis comerciais em São Paulo. Por isso, a construção do bicicletário foi feita num contexto de certificação como prédio sustentável pelo Green Building Council, como forma de agregar valor. “Nossa proposta foi a de oferecer um diferencial que contribuísse para atrair mais clientes e aumentasse o valor do aluguel, num cenário de elevada competição com outros prédios de escritórios”, explica o engenheiro Antonio Abdul Nour, um dos responsáveis pela obra.
O espaço para bicicletas entrou como parte do projeto, alinhado com a proposta arquitetônica e paisagística da obra. “O bicicletário não será um apêndice, um frankenstein, mas um espaço integrado aos demais.” Ao todo, o empreendimento terá espaço para 18 bicicletas, além de dois vestiários com chuveiro para os usuários.
A estrutura para bikes passa a ser vista como um benefício nos empreendimentos, da mesma forma que uma piscina ou uma boa academia
Os valores para a instalação de bicicletários variam, de R$ 400 (instalação de um único paraciclo em forma de U invertido para duas bicicletas) até R$ 20.000 – projeto mais complexo, para dezenas de bicicletas num shopping center, por exemplo. E a colocação pode ser feita tanto em prédios mais novos quanto nos antigos.
Nos prédios residenciais, embora a procura ainda seja menor, já existe uma demanda consistente – explica Grigoletto, da Ciclomídia. No edifício Stark inaugurado em São Paulo há três anos sem bicicletário, os condôminos decidiram aproveitar o subsolo para instalar 35 paraciclos em U invertido – capacidade para 70 bicicletas. O morador Victor Barreto, integrante do conselho do Condomínio, explica que, no início, a demanda era pequena, com ocupação de cerca de 30% das vagas. Hoje, o espaço está totalmente ocupado. “Fizemos uma campanha de divulgação junto aos demais condôminos. Com a conveniência de ter a bicicleta na garagem, sem ter de retira-las do apartamento, muitos moradores passaram a pedalar com mais frequência. Ganhamos em qualidade de vida”. A demanda aumentou tanto que os moradores do Stark já avaliam a possibilidade de instalar mais 10 paraciclos.
Na cidade de São Paulo, desde maio de 2013, a legislação obriga prédios comerciais e residenciais a preverem a existência de bicicletários. A partir dessa data, todos os edifícios comerciais e residenciais que tenham solicitado Alvará de Aprovação e Execução de Edificação Nova devem prever esses espaços. A proporção é de 10% das vagas de veículos nos prédios comerciais e de 5% nos residenciais – conforme explica o advogado Rodrigo Karpat, professor do curso de Sindico Profissional da Gabor RH. Ou seja, para cada 100 vagas de para veículos, deve haver um mínimo de mais 10 para bicicletas nos prédios de escritórios e de cinco vagas nos residenciais. Nos prédios mais antigos, a instalação é obrigatória sempre que for feita uma reforma na garagem. Entre outras exigências da lei, os paraciclos devem ser facilmente acessíveis, com adequação ao piso mais próximo das ruas e calçadas. Entre as bicicletas, deve ser observada uma distância mínima de 75 centímetros. Além disso, o espaço deve ter até 1,80 metro de extensão e a altura não pode ser inferior a 2 metros. Além de São Paulo, outras cidades como Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS) também preveem a obrigatoriedade de instalação de bicicletários.