28 de abril de 2017
Por Fabio Elizeu
Assim como outros segmentos ligados à habitação e à construção civil, a indústria de materiais de construção sentiu a crise econômica que vem atingindo o país. Em 2016, o setor registrou uma redução de 2% nas vendas em termos reais (descontada a inflação), motivada, sobretudo, por uma menor na demanda dos subsegmentos de edificações (incorporadoras) e de obras de infraestrutura. A previsão para este ano é de que, descontada a inflação, o crescimento do setor seja zero – confira no gráfico.
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O que vem garantindo os resultados do setor é um efeito colateral positivo da crise para essa indústria: o crescimento do chamado ‘consumo formiga’ – basicamente, aquelas pequenas reformas que todo mundo faz em casa e que se refletem nas longas filas nas lojas de redes como Leroy Merlin e Telhanorte nos finais de semana – além de outras tantas lojas menos conhecidas espalhadas pelo País.
Diante de um cenário de desemprego (confira matéria aqui) – e de alto risco do ponto de vista de contratar um financiamento de longo prazo, boa parte das famílias tem optado por fazer pequenas reformas em casa. É uma tampa de vaso mais bacana no banheiro, uma torneira nova para a cozinha ou a mini reforma do quarto que antes era escritório e agora receber o bebê que está chegando. Esse mercado, à primeira vista desprezível, é responsável por nada menos que 55% do faturamento da indústria de material de construção – que chega a R$ 160 bilhões.
A fatia das formigas nesse bolo, aliás, deverá aumentar em 2017, já que os subsetores de edificações residenciais e principalmente de infraestrutura continuam andando de lado, conforme afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover.
A retomada das obras de infraestrutura, que poderia melhorar as vendas de material, parece, segundo Cover, um cenário distante. “O esforço do governo em fazer deslanchar as concessões em portos, aeroportos e rodovias só deve representar um aumento da demanda por material de construção a partir de 2018, quando os projetos que estão sendo leiloados forem, de fato, para o canteiro de obras. Antes disso, há uma série de etapas burocráticas ligadas, por exemplo, à concessão de licença que têm de ser cumpridas.”
A aposta seriam, então, as novas medidas do Programa Minha Casa, Minha Vida (que já chegou a representar 7% das vendas da indústria), anunciadas em fevereiro. Mas, segundo Cover, não há sinais de que o programa vá deslanchar. “O governo criou a Faixa 1,5, em que as famílias teriam de desembolsar uma proporção maior de recursos próprios que na Faixa 1 (que tem 95% dos custos subsidiados). Mas as famílias que se enquadram nessa categoria estão reticentes em tomar recursos por conta das incertezas econômicas, principalmente associadas ao risco de desemprego”.
Restaria esperar por uma recuperação das vendas de imóveis residenciais, movimento que tem impacto na indústria tanto pelo aspecto da venda de materiais para as incorporadoras quanto pelo do consumo formiga – já que todo imóvel comprado na planta exige alguma reforma. A Abramat espera que, a partir do segundo semestre, com uma estabilização dos índices de desemprego, as vendas de imóveis residenciais apresentem alguma recuperação. Mas sem, no entanto, efeito muito expressivo do ponto de vista de melhoria dos resultados da indústria.
Diante do cenário de incerteza para as grandes obra o mercado das formigas deve continuar garantindo as vendas do indústria de material.