14 de janeiro de 2016
Por Fabio Penteado
Nunca foi fácil realizar projeções econômicas. Isso porque uma série de fatores impacta diretamente no desempenho das diversas atividades que compõem o cenário produtivo de um país. Muitas vezes, porém, devido ao crescimento contínuo verificado em anos anteriores e à estabilidade política, por exemplo, é possível fazer este exercício e projetar algumas ações e definir metas.
Mas e num ambiente de incertezas como o que passa a política no Brasil, que reflete diretamente nas decisões econômicas, o que fazer? Para responder a essa questão, ouvimos executivos do setor para, de algum modo, tentar traçar um panorama sobre o segmento imobiliário em 2016.
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O presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci), João Teodoro, começa sua análise ressaltando que o mercado em 2015, apesar de ligeiramente retraído, tem perspectivas de crescimento em relação a 2014. “Há uma queda acentuada no número de lançamentos imobiliários, motivada pelo grande volume de imóveis em estoque nas incorporadoras, mas isso não interfere diretamente no volume de vendas porque as ofertas continuam abundantes. Esperamos registrar crescimento de vendas na ordem de, pelo menos, 5%”, afirma.
Mas o executivo reconhece que comprar imóveis como investimento certamente não foi uma ótima opção no ano passado. Entretanto, diz, é um excelente momento de compra para quem precisa de um imóvel para uso próprio ou de familiares. “O grande volume de ofertas aliado às dificuldades de mercado proporciona excelentes preços, com descontos impensáveis”, garante. Ele, porém, faz um lembrete. “Os empecilhos são o momento econômico difícil pelo qual passa o País, agravado pela crise política gerada pela queda de braço entre a presidente da República e o presidente Câmara Federal, a escassez de financiamentos para imóveis usados e a elevada taxas de juros”, enumera.
Teodoro garante que as barreiras não dificultam os negócios no País. “O brasileiro, de modo geral, é corajoso e arrojado. Somente nas grandes incorporadoras, especialmente nas de capital aberto, é que se nota franca retração nos lançamentos. Os empresários de médio e pequeno portes continuam acreditando no mercado, apesar das dificuldades”, salienta.
Para 2016, o presidente do Cofeci lembra que o desempenho estará relacionado aos ares econômicos e políticos. “Se a crise política for solucionada, certamente haverá retomada econômica, ainda que timidamente num primeiro momento. Neste caso, continuaremos acreditando em crescimento de algo em torno de 5%. Se a crise persistir, tanto política quanto econômica, o máximo que poderemos esperar será crescimento de 1% ou 2%”, informa.
Na opinião de Teodoro, as empresas devem perseverar em suas ações em favor do aquecimento do mercado. “O Brasil tem grande potencial para, mesmo na crise, manter em crescimento o mercado imobiliário. Mas a imobilidade dos empresários pode anular esse potencial. Por isso, o caminho é continuar agindo. O mercado tem feito a sua parte. Falta agora o governo fazer a sua e reencaminhar a economia para o crescimento”, frisa.
O executivo completa dizendo que, do ponto de vista macroeconômico, o cenário é favorável ao mercado imobiliário, graças à queda do Real em relação ao Dólar, que favorece a aquisição de imóveis ou investimentos no Brasil por estrangeiros. “Nossas entidades estão trabalhando justamente essa peculiaridade neste momento. Assim sendo, tanto interna quanto externamente, o mercado imobiliário brasileiro continua atraente”, enfatiza.
O economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, concorda com o presidente do Cofeci e diz que o mercado imobiliário é uma oportunidade infinita. “O momento de hoje é difícil e não consigo dizer quando conseguiremos sair desse emaranhado político e econômico. Há muita desconfiança no mercado, mas se todas as questões atuais no Brasil forem resolvidas o mercado imobiliário é um dos primeiros a reagir”, lembra.
O economista lembra que as pessoas têm necessidades habitacionais e esta é uma demanda contínua uma vez que pessoas se casam, se divorciam e há uma constante entrada de potenciais clientes para o segmento imobiliário no mercado de trabalho.
Mas o cenário atual não é dos mais positivos. Para ilustrá-lo, Petrucci divulga alguns números. De acordo com ele, em 2015, estima-se uma redução de 15% a 20% nas vendas em relação ao ano de 2014, ou seja, um intervalo entre 17,3 mil a 18,4 mil unidades comercializadas no ano. Para os lançamentos, a queda deverá ser de 23% a 25% frente ao ano anterior – 25,5 mil a 26,2 mil unidades lançadas no ano. Quanto à venda de imóveis novos, o economista revela que a tendência é o de as companhias da comercializarem os estoques. “Mas isso chamamos de ajuste de mercado. O preço do imóvel vai se readequar, pois hoje observamos uma forte queda”, define.
Petrucci, contudo, lamenta que mercado imobiliário tenha sido atingido pela crise econômica e o ambiente político desequilibrado. Além disso, recorda, convive com um cenário de aumento da inflação, retração do consumo e aumento do desemprego. “Diante disso, as empresas revisaram suas metas e diminuíram consideravelmente o volume de lançamentos. Com o adiamento da compra do imóvel, tivemos o aumento da oferta, ou seja, estamos com mais unidades prontas, em produção ou na planta à venda”, relata.
Mas assim como Teodoro, do Cofeci, o economista do Secovi-SP diz que para aquele que deseja adquirir um imóvel o momento é de oportunidades. “Há um bom volume de unidades em oferta, algumas boas promoções. Para quem tem recursos e está em dúvida se deve ou não comprar, afirmo que é um bom momento para investir”, salienta.
Isso tem uma explicação. O executivo conta que as companhias buscam saídas para a retração econômica, para a falta de confiança dos consumidores e a diminuição de recursos dos bancos para a produção e aquisição de imóveis. “As empresas passaram a parcelar o preço diretamente com os compradores, apesar de ser um risco, pois assumem o papel de agentes financeiros, mas encontraram assim uma forma de continuar operando”, pontua.
Segundo Petrucci, ainda é muito cedo para traçar expectativas para o ano de 2016. “Devemos utilizar o ano de 2015 para pensarmos e tomarmos cuidado com os nossos negócios. Mas acredito que não teremos, por exemplo, mais perda no Produto Interno Bruto (PIB)”, avalia.